Deixo vocês com esse testemunho incrível... e pergunto: O que significa presenciar todas essas transformações?
Boa leitura.
Abraço,
Paloma Mendes
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QUEDA DO MURO DE BERLIM: EU VI
Nilzardo Carneiro Leão
1989. 26 anos passados, estávamos, o Dr. João Benedito de Azevedo Marques, Presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), e eu, então Conselheiro do mesmo órgão, na República Federal da Alemanha, em Bonn, sua Capital, convidados que fôramos pelo Ministério da Justiça daquele país, para participar de uma série de debates sobre o Código de Processo Penal alemão, que o governo pretendia modificar.
Além das reuniões de trabalho no
próprio prédio do Ministério da Justiça, fomos levados a outras cidades para
conhecer o funcionamento do sistema processual penal, bem como outras
instituições. Fomos a Berlim conhecer o Centro de Dados, sistema de informação
e banco de informações, salas imensas, poucos funcionários, de lá saiam, todos
os dias, para todo o pais, mais de 4.800
respostas e certidões.
Hospedados estávamos no Hotel
Intercontinental. Certo dia, vimos pelas ruas pessoas correndo, aos gritos,
algumas conduzindo marretas, martelos, pedaços de ferro. Tudo estranho em uma
cidade onde a ordem estava presente em tudo e com enorme padrão de organização.E
veio a informação: ESTÃO DERRUBANDO O MURO!.
Na véspera, estivera eu com João
Benedito junto àquela muralha. Confesso ter sentIdo uma emoção diferente ao ver aquele
MURO cortando a cidade, soldados portando metralhadoras e caminhando pelo
mesmo, no alto, a impedir qualquer tentativa de possíveis fugas para a RFA.
Do lado em que nos encontrávamos, naquela
ocasião, constatamos, próximo à sua
base, cruzes cravadas no chão, a mostrar local onde alemães foram sumariamente metralhados
e mortos por soldados, de cima do MURO, quando em dramática tentativa de
fuga.
Não era como a “Muralha da China”, construída
muitos séculos passados, milenar, para proteção contra ataques de tribos ou de
povos vizinhos. Não. Era uma barreira de concreto de vários metros de altura e
alguns de largura, construído em pleno século XX, para barrar ideias, como se
fosse possível com concreto e tijolo impedir no homem o desejo de liberdade. Ainda
que para isso se tivesse de dividir uma cidade, grande centro de conhecimentos
e de cultura, afastar parentes, cortar raízes
culturais. Custa a crer o que foi feito: Berlim cortada pela
metade, com lugares que, de um lado, parte da rua pertencia à RDA, a outra à
RFA!
No Brasil, longe, ouvia falar do MURO,
lia, via filmes mas, o que representava, só junto a ele foi possível entender o
que realmente significava. Fiquei a imaginar e a sentir as mesmas dores e sofrimentos dos que
ficavam de cada lado..Olhava e lá estava ele, gigante de cimento, símbolo do
autoritarismo e do poder de mando.
Do lado onde estava, RFA, era ele
pintado e desenhado com protestos e apelos de paz e liberdade; do outro lado,
limpo, tristemente pintado de amarelo-cinza, soldados a montar guarda. Cheguei
a escrever naqueles dias, para nada esquecer: em verdade, não foi só a ruptura
de um MURO, revelava início de mudança
de toda uma estrutura de sustentação
política, rompida de tal forma que nos dias que se seguiram imprevisíveis
as consequências. Os fatos passavam a acontecer, naqueles instantes, com uma
rapidez tão grande, que nem os próprios alemães, podiam prever o que iria acontecer dentro de
semanas, de dias.
Também participei da derrubada,
trago guardado comigo, pequeno pedaço do MURO e a foto, eu, com um martelo, também
dando minha contribuição à liberdade. Emocionante ver milhares de alemães,
homens e mulheres com picaretas, martelos, marretas, qualquer instrumento,
destruindo e derrubando o que dividia a
cidade., alguns gritavam, como se com seu ato fosse uma forma de busca de
libertação para os irmãos., outros, revelando nas faces a raiva, terceiros a
rirem e se abraçarem. Tudo indescritível
na sua grandiosidade.
Cada dia, maior o número de alemães
que passavam pelas aberturas feitas no MURO para o lado ocidental, facilmente
identificáveis: roupas grosseiras, barbas por fazer, grossos sapatos, casacos
“surrados”, as mulheres mal vestidas, unhas sem trato, cabelos aparentando mal
penteados.
A queda do MURO criou problemas.
Era dado a cada um deles, pelo Governo da RFA cem marcos para passarem o dia e muitos guardavam parte
do recebido para levar de volta para casa. O ROTARY também passou a fornecer
uma refeição pela manhã. E eram longas as filas de espera.
Muito o que contar. Cada dia que
passa, uma pequena lembrança do que vi
vem sendo trazida ficado gravado. os fatos, as emoções de cada instante,
naqueles instantes momentos de grandes interrogações e perspectivas para o futuro.
A QUEDA DO MURO, EU VI.
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